sexta-feira, 26 de novembro de 2010

INTRADUZÍVEL




INTRADUZÍVEL
milene sarquissiano

para Oswaldo Antônio Begiato


Toda linha é pouca
se a razão é louca.
Não cabe no verso
o tamanho do amor.
Perde-se de vista;
o olho não alcança.
Não cabe no verso
qualquer explicação.
O amor é uma língua
que só a nossa boca
sabe a tradução.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

PEGADAS


Pegadas
milene sarquissiano


vens no tremular das pálpebras
com longos cílios de sedução
deslizando no caule noturno
o néctar selvagem dos mistérios

vens na gratuidade do sereno
espreguiçando gotas sobre lençóis d'água
escrevendo a poesia úmida
que flui na correnteza dos olhares

vens na ousadia crescente da lua
entre nevoeiros de solidão
lambendo a poeira dos naufrágios
em carícias salgadas de além- mar

vens na maciez fresca da aurora
fundir-te em tronco à raiz do dia
roçando lábios no ventre da terra
deixando beijos como pegadas

terça-feira, 2 de novembro de 2010

ALTA TE(n)SÃO



ALTA TE(n)SÃO
milene sarquissiano

quando tocas com a íris
a ponta dos meus seios
e vês nos meus olhos
os teus em devaneios
o mundo parece que pira
o tempo parece que para
a gente perde a linha
e também o fio da meada
os lábios ficam grudados
imantados de cio e tesão
a língua em brasa arrebita
e duela com a outra aflita
lanha suga sobe desce
molha excita incita fere
e no ápice do atrito
entram em curto-circuito
então a vista escurece
e a terra toda estremece
não há santo que aguente
nem diabo que nos carregue