quarta-feira, 28 de abril de 2010

ENTRELAÇADOS


ENTRELAÇADOS
Milene Sarquissiano

Rastros úmidos de terra
absorvidos passo a passo,
feito memória em grãos.

Digital da história
tombando ocre
à sombra do silêncio,
onde jaz o ontem.

E o hoje é apenas
saudade fresca
espreguiçando raízes,
emaranhando troncos,
entrelaçando as nossas vidas.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

TÃO LUA...


TÃO LUA...
Milene Sarquissiano

Cheia de si
insinuante,
derrama olhares
pela janela,
tingindo em prata
meu corpo manso.

Lençol negro de suspiros
esparrama-se,
estendendo a noite
na minha cama.

Murmurenta,
deita comigo,
beija meu sono,
dorme meus sonhos.

Tão linda...
Tão lenda...
Tão lua...

terça-feira, 20 de abril de 2010

EU, RIO


EU, RIO
Milene Sarquissiano


Pelo sim e pelo não.
Pelo certo e pelo errado.

Pelo que havia pra ser vivido,
E covardemente não se viveu.

Pelo alimento em abundância,
E pela falta constante do pão.

Pela palavra mal proferida,
E pela boca que emudeceu.

Pelo amor descabido de alguns,
E por não caber amor em muitos.

Pela água que mata a sede,
E pela sede incessante de matar.

Pela inteligência que há no mundo,
E pela burrice de não bem usá-la.

Pela riqueza que veste a carne,
E pela pobreza que despe o espírito.

Pelo dito e pelo não dito,
Dos meus olhos nascem rios...

E, enquanto rio
Eu não sorrio.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

LÁGRIMA DE UVA


LÁGRIMA DE UVA
Milene Sarquissiano


É a vontade de te beber
que faz escorrer essa lágrima de uva
dos meus lábios rubros.

É o choro incontido de uma boca
saudosa dos teus beijos tintos.

É o amor...
envelhecendo
como todo bom vinho.

FOME DE CÉU


FOME DE CÉU
Milene Sarquissiano

Sedento de mim,
bebeu a noite na taça do meu corpo.
E embriagado de amor
viu estrelas no meu umbigo de lua cheia.

Não era sede...
era vontade de ficar nas nuvens...

Era fome de céu!

quinta-feira, 15 de abril de 2010

PRISÃO PERPÉTUA


PRISÃO PERPÉTUA
Milene Sarquissiano


Eu quero um amor bandido
Que me faça correr riscos
Que ponha minhas mãos pro alto
E faça em meu corpo, assalto
Vasculhando o meu bem precioso
Revirando-me pelo avesso
Num delito de intimidades
Que me deixe na miséria
E leve de mim, o que quiser

E que depois, seja o mocinho
E eu, o temido bandido
Que me encoste contra a parede
Com as pernas bem afastadas
E me passe em revista
Apalpando-me minusciosamente
Numa tortura quase hedionda
Me fazendo ré confessa
Algemada e prisioneira

E que, quando necessário
Nomeie-se meu advogado
Com totais e plenos poderes
Me defenda incondicionalmente
Garantindo-me o habeas corpus

E que eu, posta em liberdade
Faça mau uso do juízo
Pra me tornar reincidente
E voltar para o teu cárcere
Inafiançável, e agora, perpétuo