terça-feira, 20 de abril de 2010

EU, RIO


EU, RIO
Milene Sarquissiano


Pelo sim e pelo não.
Pelo certo e pelo errado.

Pelo que havia pra ser vivido,
E covardemente não se viveu.

Pelo alimento em abundância,
E pela falta constante do pão.

Pela palavra mal proferida,
E pela boca que emudeceu.

Pelo amor descabido de alguns,
E por não caber amor em muitos.

Pela água que mata a sede,
E pela sede incessante de matar.

Pela inteligência que há no mundo,
E pela burrice de não bem usá-la.

Pela riqueza que veste a carne,
E pela pobreza que despe o espírito.

Pelo dito e pelo não dito,
Dos meus olhos nascem rios...

E, enquanto rio
Eu não sorrio.

Um comentário:

  1. Exatamente.
    Sou a palhacinha rs.
    Memória fantástica a sua, brilhante como sua escrita.
    Sou sua admiradora, e quando soube que estava reativando seu blog tive que vir beber um pouco de palavras e sentimentos, para minimizar minha sede, acarinhar os olhos da minha alma, e te dar os parabéns.

    Excelente regresso a este espaço infinito.

    E obrigada pela sua visita!

    Quem me conhece sabe que não rasgo seda.
    Admiro muito como escreves.

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