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(IN)FARTO
Milene Sarquissiano
Arranho a garganta do tempo
com a agudez de quase unhas.
Rouca, a dor geme afiada,
cortando os pulsos da neblina.
A insanidade gargalha incontida
rompendo o silêncio dos lábios.
Equilibrada na escuridão,
a lua lambe o asfalto,
farejando o cio do chão.
A boca da noite fede,
...late uma saudade cão.
Rosna de dor o peito
(in)farto de solidão.
HEMORRÁGICO AMOR
Milene Sarquissiano
Será à mesa da tua fartura que matarei a fome
do conhecimento e lamberei o prato da sabedoria?
Em que pé de vento calçarei a serenidade furacônica
das minhas tempestades mais levianas?
Qual livro ousará revelar os romances tórridos que
eu nunca tive e as doenças que cultivei em segredo?
Em que mar de lama meus olhos azuis plantarão rosas
e colherão valentes violetas, cheirando à sarjeta?
Que estrela fecundará em seu ventre as ideias que
lancei no ópio da noite, entorpecido pelo êxtase lunar?
Quantos bêbados vomitarão suas poesias tontas
na boca do estômago das minhas horas insones?
Em que barco naufragará a tristeza da minha alma
que me afoga e afunda, em terra firme e de ninguém?
Quantas folhas tombarão no outono dos meus olhos
revelando a paisagem pardacenta das minhas retinas?
Em que túmulo jazerá o verso anêmico que sangrou
até a morte, em nome do nosso hemorrágico amor?
SOLO
Milene Sarquissiano
Gosto do teu olhar perdido e torpe
Valsando lento por meus encantos
Pousando malicioso nas minhas delícias
Gosto do calor que vem da tua boca
Quando tua língua dissimulada
Incendeia versos na pele dos meus lábios
Gosto das nossas salivas misturadas
Afogadas num desejo que não cessa
Engolindo o gosto dos nossos sais
Gosto do arrepio que corta a carne
Quando tomas meu seio em tua boca
E minhas fendas, em teus dedos
Não gosto de abrir os olhos
E ver refletida no espelho
A minha imagem...e a de mais ninguém.